Lição 02 - O Primeiro Problema Enfrentado em Família (Jovens)





O que leva alguém a querer o mal de quem só faz o bem? De alguém que ama os outros incondicionalmente? Observe o caso de Jesus. O que motivou os líderes judaicos a quererem matá-lo? Eles eram invejosos, profundamente invejosos. Eles rangiam os dentes contra Jesus porque Ele era feliz. Está escrito: "Pilatos sabia muito bem que os líderes judeus haviam entregado Jesus porque tinham inveja dele” (Mateus 27.18 NTLH). Existia algo bastante mesquinho e vil na alma dos sacerdotes, os quais buscavam, simplesmente, a destruição do Messias. Eles pensavam: “Se nós não podemos ter o sucesso dEle e também a sua alegria, então ninguém pode ter”, e decidiram matá-lo. Para se perceber o quão irracional era o sentimento dos líderes de Israel no tempo de Cristo, a inveja deles "explodia” contra o Senhor exatamente quando alguém era abençoado com um milagre. Eles ficavam ensandecidos. Que paradoxo!
Nos últimos momentos do seu ministério, o Redentor chorou quando viu antecipadamente o fim de Jerusalém, ao chegar perto da cidade. (Lucas 19.41,42). Os maiorais dos judeus, ao condenarem Cristo, estavam também se autodestruindo. A inveja os cegara. Eles não conseguiram ver, bem ali, diante deles, a visitação do Sol da justiça. Cortaram a última chance de felicidade daquele povo. Anos depois, o império romano destruiu Jerusalém. Aquela geração perdeu a oportunidade de encontrar o caminho da Vida.
Os judeus, por causa da inveja, não reconheceram o tempo da visitação de Deus e foram dispersos pelo mundo — a Diáspora, por quase dois mil anos. Israel perdeu a melhor oportunidade da vida, enquanto Nação, para ser feliz.
O sentimento motivador dos acusadores de Jesus, a inveja, é um pecado que encarna o desejo de não querer a felicidade do outro. Querer as coisas que o outro possui é cobiça, mas ficar enfurecido pelo sucesso alheio é um ato claramente indigno, menor.
R. N. Champlin comenta o assunto:
“Dentro da lista de vícios humanos, preparada por Paulo, em Romanos 1.29, a inveja ocupa posição proeminente, associada ao homicídio e ao ódio contra Deus. Isso é muito sugestivo, pois parece que o invejoso, não podendo atacar a Deus diretamente (a quem considera a causa de seu insucesso), volta-se contra um outro ser humano, que parece ameaçá-lo com o seu sucesso (real ou imaginário). O trecho de Gálatas 5.19 alista a inveja como uma das obras da carne, que formam contraste direto com o cultivo dos frutos do Espírito (v. 22ss). — Paulo advertiu Timóteo para não se envolver em controvérsias e disputas mórbidas, as quais conduzem, entre outras coisas, à inveja (1 Tm GA). Tito também foi devidamente instruído quanto à inveja (Tt 3.3). O caso mais trágico de inveja nas páginas da Bíblia é o dos líderes Judeus, que fizeram de Jesus Cristo a vítima de sua inveja (Mt 27.18). O distorcido motivo deles era tão óbvio que o próprio Pilatos, governador romano, percebeu o mesmo, embora fosse homem fraco demais para pôr-se ao lado do direito (Mc 15.10ss). (...) a inveja é uma atitude diabólica, conforme assevera 1 João 3.12 (...). A inveja, como já dissemos, é uma das obras da carne, pelo que é natural para o ser humano decaído (Gl 5.21). Na teologia moral posterior, a inveja é alistada entre os pecados mortais (que vide)”.
Conhecendo, ainda que superficialmente, o que a inveja pode causar, chega-se à história central deste capítulo. A saga dos dois primeiros irmãos, na mais remota sociedade primitiva, Caim e Abel, filhos de Adão e Eva. Cada um deles buscou o sucesso do seu próprio modo. Um trabalhou como agricultor (a primeira profissão de Adão), e o outro foi cuidador de ovelhas. A vida se desenvolvia aparentemente normal quando, de repente, tudo mudou. Em um momento, Abel foi honrado por Deus, e Caim não. Um se destacou em relação ao outro. E é aí que começa a nossa história.

I. Caim e Abel

1. O começo de tudo
Uma das histórias mais conhecidas de todos os tempos é a de Caim e Abel, e ela retrata muito bem o tema deste capítulo. Os filhos do primeiro casal eram homens ocupados. Caim, o mais velho, era muito trabalhador, pois todos sabem que se empenhar na agricultura requer muito esforço, pois exige preparar a terra, lançar a semente, regar, proteger das pragas, manter limpo o terreno em redor da plantinha, saber o momento da colheita e fazê-lo tempestivamente, armazenando a colheita em local adequado. Ele fazia suas plantações para colher alimentos para a subsistência familiar, pois não havia necessidade de comercializar. (Talvez fizesse alguma permuta com os animais de Abel). Caim produzia o que a família iria consumir. Ele nunca se importou muito em buscar a Deus, pois as Escrituras dizem que ele era do maligno (1 Jo 3.12), um termo muito forte para alguém sobre o qual pendia uma forte expectativa de futuro. Tanto é assim, que seu nome significa possessão. Seus pais, dessa forma, viam Caim como um presente dado por Deus.
Quando o segundo filho nasceu, por outro lado, recebeu um nome curioso: Abel, que significa vaidade. Ao que tudo indica, o caçula era, assim, o filho “número dois". Matthew Hemy diz que, quando Eva imaginou “que havia conseguido a semente prometida em Caim, ela ficou tão empolgada com essa posse que o outro filho era uma vaidade para ela”.
Todas as atenções, dessa forma, recaiam sobre a possessão de Deus. Quando, porém, o “número dois” foi procurar uma profissão, escolheu aquela que lhe permitia estar mais tempo a sós com o Criador, — pastor de ovelhas. Moisés e Davi também a escolheram e tiveram grandes experiências com o Senhor. Isso também certamente aconteceu com Abel. Ele é exaltado nas Escrituras, inclusive, por ser um homem de fé. Sua santidade e pureza podem ser claramente identificadas nas passagens bíblicas. Abel era um moço que, numa época remotíssima e escassa de padrões espirituais, encontrava na comunhão com o Senhor, nos dias e noites que passava nos campos, a razão maior para viver.
A Bíblia não relata nenhum conflito nessa época. Pode-se até arriscar dizer que eles eram unidos. Ao que tudo indica, o sucesso de um não incomodava o outro. Não havia, em tese, competição entre eles... Nem inveja, que só ocorre entre semelhantes. Ora, como sentir inveja de alguém que não lhe opõe e não ofusca o seu reinado como o “número um”? Nenhum camponês que reside no Nordeste brasileiro, ou índio da floresta amazônica, tem inveja de uma pessoa que habite, muito feliz, no Alasca ou na Groenlândia. Ambos não são concorrentes nem iguais. Sendo assim, não há inveja.
No conto infantil “Branca de Neve”, o aparecimento da inveja é descrito magistralmente. A rainha má sempre perguntava ao "espelho mágico” se existia alguém mais bela do que ela. Contudo, a resposta era sempre negativa. A menina Branca de Neve, entretanto, foi crescendo... Quando completou certa idade e a rainha fez a pergunta habitual, a resposta lhe enfureceu: "Branca de Neve era mais bonita que ela mil vezes! Por isso, a rainha tentou matá-la impiedosamente”.
Este é o retrato de muitas famílias. Enquanto não há concorrência, não há conflito. Entretanto, quando irrompe o enfrentamento, ainda que involuntário, como no caso de Abel (e da Branca de Neve) o mal pode aparecer repentinamente. É o que será visto a seguir.

2. Irmãos em conflito
A Bíblia manda alegrar-se com os que se alegram (Rm 12.15). Isso é muito difícil. (Chorar com os que choram é até fácil; contudo, sentir prazer na conquista dos outros é só para quem é virtuoso e nascido de Deus).
Faça um teste: veja quem lhe parabeniza efusivamente, olhando em seus olhos, quando algo de bom lhe acontece. Você perceberá que serão poucos os que lhe prestarão homenagens sinceramente. Lamentável, não obstante é verdade. Os seres humanos são, em regra, invejosos, embora ninguém queira admitir.
Lembro-me de um caso que aconteceu há alguns anos. Eu estava pensando sobre alguns fatos e percebi, num instante, como era grande o “sucesso” de alguém que estava em “pé de igualdade” comigo. De repente, um sentimento mesquinho começou a assumir o controle de minhas emoções. Era muito forte. Eu senti um grande ódio pela pessoa sem qualquer explicação razoável. Ele não assumira nenhuma posição que “era minha” por direito (até porque, na vida, ninguém é dono de nada, muito menos de posições e cargos). Simplesmente o invejei porque eu não estava no lugar dele. Quando eu estava com uma sensação desagradável, sentindo o vazio que sucede ao pecado (tinha entristecido o Espírito Santo), assustei-me... e orei: “Ó Senhor, perdoe-me, isso que eu estou sentindo é inveja. Purifica-me completamente”. Naquele mesmo instante, a alegria de Deus, mais uma vez, voltou ao meu coração. O susto foi muito grande. Nunca imaginei isso acontecendo comigo. Desde então, procuro ter um cuidado redobrado para o “velho homem” (o Caim interior), neste aspecto, não crescer novamente e dominar a situação. Acredito que aconteceu com Caim o mesmo processo que aconteceu comigo. A diferença é que dominei o mal que estava à porta, pela misericórdia do Senhor.
Caim, a primeira criança amada neste mundo, sobre a qual os pais depositavam grande expectativa (talvez acreditando ser ele quem feriria a cabeça da serpente — Gn 3.15; 4.1), trouxe, do fruto do seu suor, uma oferta para Deus. E possível que, em seu coração maligno (1 Jo 3.12), acreditasse que aquele seria o momento de sua coroação, de sua exaltação, da confirmação como o herdeiro da promessa de Gn 3.15. Entretanto, para surpresa geral, Deus somente aceitou o sacrifício de Abel. Com a decepção, Caim irou-se fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante (Gn 4.5). Isso demonstra que “Caim não suportava que algum outro ficasse em primeiro lugar. A preferência do Senhor por Abel encheu Caim de raiva. Só Caim podia ser o ‘número um’”.
Tudo leva a crer que Caim, nos momentos que antecediam o sacrifício, estava bem, com feições simpáticas, quem sabe até alegre; afinal de contas, ali estava o resultado de muito tempo de trabalho árduo sendo oferecido gratuitamente ao Senhor. A ira contra Deus transformou-se rapidamente em inveja contra seu irmão. Agora, Abel era um competidor, um concorrente, um obstáculo ao sucesso de Caim, o qual, sem demora, armou um plano para destruir o oponente.

3. Um lampejo da graça
No momento em que a ira (hb. bãrãd) de Caim se acendeu (o termo hebraico usado denota estar irado com muito ardor), a perspectiva ficou sombria. Deus sabia o desfecho trágico de tudo aquilo, mas mesmo assim Ele acendeu um facho de luz sobre Caim. Tratava-se de um lampejo da sua graça.
De repente, naquele ambiente de pecado, culpa e juízo, houve um raio de esperança. Está escrito: “E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás” (Gn 4.6,7).
Deus estava dizendo que a porta da reconciliação estava aberta para Caim. “Não deis lugar ao diabo” (Ef 4.27), lembrava o Senhor. Todavia, foi exatamente o que Caim fez: irou-se contra Deus, deu lugar ao diabo, mentiu ao chamar Abel ao campo e, cheio de inveja, matou seu irmão.
Muitos cristãos, por diversas vezes, desprezam a voz de Deus e seguem os sentimentos do seu coração (Mc 7.21-23). A graça de Deus estava brilhando em meio à escuridão, mas o ardor da inveja de Caim foi mais intenso. O primogênito rancoroso, por causa do livre-arbítrio, realizou seu astuto intento.

4. O primeiro fratricídio
Como aconteceu o primeiro crime entre irmãos? A Bíblia é bastante sintética sobre o iter criminis (as fases do crime). Ela diz, apenas, que o assassino convidou o irmão para ir ao campo e ali o matou (Gn 4.8).
A questão do convite, embora não conste expressamente no texto bíblico, parece-se subentendida, pois diz a Bíblia que "falou Caim com seu irmão Abel...” (Gn 4.8).
Não há, porém, o menor resquício de qual lugar tenha sido, embora o delito tenha acontecido no campo e, portanto, longe da vista de seus pais. Que campo era aquele? Era o campo das plantações de Caim ou o lugar em que passavam os animais de Abel? Não se sabe ao certo. Entretanto, pelo texto, dá a entender sobre a singularidade do lugar. Ou seja, é possível que o campo fosse utilizado simultaneamente por ambos os irmãos, na medida em que a lavoura e os rebanhos, certamente, não eram grandes, pela quantidade de consumidores que exigiam à época.
Muito provavelmente, aquele campo, nalgumas vezes, fora palco de brincadeiras entre os irmãos e de passeios em família. Certamente, por vezes, Abel ajudou seu irmão a trazer para casa alguma verdura ou fruta daquele campo, bem como é possível que Caim tenha ajudado Abel com as ovelhas que por ali pasciam. Naquele dia, porém, o lugar recebeu, pela primeira vez na história humana, a maldição da morte. Aquela não era mais a campina da amizade e do companheirismo. Agora, porém, tratava-se do campo da morte.
É notável observar que, depois do crime, Caim tentou disfarçar • sobre o episódio ocorrido, porém Deus o confrontou fortemente. No Comentário Bíblico Beacon, há a seguinte narrativa sobre esse fato:
“Mas Caim não pôde evitar o SENHOR. Logo se desenvolveu a cena de julgamento. ‘A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra' é a vívida expressão idiomática que significa: ‘Tu podes tentar esquecer teu ato de violência, mas eu não posso. O que quer que aconteça com meus filhos é questão de preocupação pessoal para mim’. O privilégio de cultivar a vida vegetal foi tomado de Caim, e ele foi banido para o deserto, a fim de ser fugitivo e errante.
A exposição do seu pecado mudou Caim. O ódio arrogante se tornou em medo covarde misturado com autopiedade. Ele estaria suscetível do mesmo destino que desferiu ao irmão. Não pôde nem suportar o pensamento. Mas Deus não escarneceu dele. Mais uma vez, sua misericórdia suavizou o castigo. Pôs o SENHOR um sinal em Caim. Assim, Caim partiu para enfrentar uma vida totalmente nova, longe de Deus”.
O erro de Caim trouxe a ele, como foi visto, graves consequências. O que chama a atenção, entretanto, é o fato de Caim desconhecer (ou fazer-se de desentendido) que ele deveria ser o protetor de seu irmão (Gn 4.9). Deus espera que cada pessoa seja guardadora de seus irmãos. Essa era a maior obrigação de Caim, mas ele não a cumpriu e foi severamente punido. E quanto a nós?

II. Rivalidades entre Irmãos

1. Um problema Histórico
A história de Caim e Abel não é única. Muitos desses dramas se espalham no cotidiano das famílias. Filhos invejosos desprezam aqueles aos quais deviam proteger e fazem pouco ou nenhum caso da vontade de Deus. Daí existirem tão abundantes problemas familiares. Vale dizer que isso não é um problema dessa geração. Nas ruas das cidades, em todo o mundo, há famílias com muitas pessoas que se comportam como Caim, que machucam e matam (às vezes, só com palavras, gestos ou indiferença) as pessoas que deveriam amar.
Nos anais da história, por exemplo, encontramos abundantes casos de inveja entre irmãos. “O vaidoso Calígula assassinou seu irmão porque era um jovem formoso”, assim como outro imperador Nero assassinou seu meio-irmão Britânico, além de sua mãe e sua esposa. Também "Cambises matou o irmão Smerdis porque era capaz de usar com maior habilidade o arco e a flecha do que ele ou qualquer de seu partido”.
Os casos também são abundantes na Bíblia. Ismael perseguia a Isaque (G1 4.29), Esaú e Jacó eram rivais desde o ventre (Gn 25.22,23), os irmãos de José tinham inveja dele (Gn 37.11), Miriã e Arão cobiçaram a posição de Moisés (Nm 12.1,2), os irmãos de Davi o desprezavam (1 Sm 16.11; 17.28), dentre muitos outros casos. A rivalidade entre irmãos não atinge apenas as famílias que vivem distantes de Deus, podendo acontecer também com as famílias cristãs. E bom haver cautela para que nunca uma sorrateira raiz de amargura brote e, por ela, muitas pessoas sejam contaminadas.
Como pai de quatro filhos jovens e adolescentes, tenho-os advertido constantemente para que permaneçam na unidade da fé com os irmãos da igreja e, também, com os irmãos de casa! Às vezes, observo que eles "vigiam” muito em não ofender os amigos da igreja, sendo gentis com os colegas de escola e universidade; no entanto, quando se trata dos irmãos de sangue, parece que as barreiras do respeito, do amor, da humildade, caem por terra, e aí aparece a face clássica do velho homem. Então, em seguida a esses momentos, é preciso haver pedido de perdão, para que não sejamos derrotados pelo inimigo (2 Co 2.10,11).

2. Um problema importante
Todo problema de relacionamento que, eventualmente, surgir dentro da família é importante, pois, havendo a quebra da unidade, a força do grupo será menor para vencer os embates da vida. Olhando para o futuro, sobretudo, é quando se percebe com mais nitidez como os problemas familiares realmente precisam ser solucionados urgentemente.
Ouvi recentemente de um pastor-presidente da Igreja Assembleia de Deus de um dos Estados do Brasil uma história muito triste, porém verdadeira e que ocorre frequentemente. Eis a história: um antigo pastor-presidente daquela Igreja, homem de Deus, que sempre foi muito querido e respeitado por toda a membresia, ao envelhecer, depois de presidir a Igreja e a Convenção de Ministros durante muitos anos, pediu para ser jubilado e transmitiu o cargo ao seu sucessor. Com o passar do tempo, o agora ex-presidente continuou comparecendo aos cultos; entretanto, quando terminava as celebrações, dificilmente alguém o cumprimentava. Ele ficava no púlpito, olhando de um lado para o outro, e poucas pessoas lhe saudavam, para a sua tristeza. Antes, ele era muito procurado, inquirido, as pessoas queriam ouvir seus conselhos; mas agora, quase todos se esqueciam daquele ancião.
Algum tempo depois, ele adoeceu. Ninguém, no entanto, ia até sua residência para visitá-lo. O consolo que ele recebia vinha de sua inseparável família. Sua filha carinhosamente se deitava ao seu lado, no leito, para conversar com ele e fazer-lhe carinho. Era um homem de bem, exemplo para toda uma geração de cristãos, bastante conhecido no Brasil e fora dele, porém terminou seus dias no ostracismo, sendo muito amado, de fato e de verdade (1 Jo 3.18), apenas por sua família.
Este exemplo faz emergir a forte presunção de que ninguém deve esperar que pessoas alheias à sua família, salvo raras e honrosas exceções, cuidarão de um idoso enfermo, com carinho e paciência, voluntariamente, até o dia de sua morte. Pode até aparecer alguém que cuide durante algum tempo; porém, somente a família, ligada por fortes laços de lealdade, permanecerá ao lado do familiar debilitado. É como dizia certo poeta americano: "Amem-se ou pereçam".
A unidade familiar deve ser preservada sempre, pois, como mencionado, no fim dos dias, possivelmente, apenas os membros da família estarão por perto para estender a mão e dizer: “Não se preocupe, nós estamos aqui. O senhor (ou senhora) cuidou de nós ao logo da vida; agora é a nossa vez de cuidar do senhor (ou senhora)”.

3. Um problema inevitável
Dentro da perspectiva do item anterior, apresenta-se elementar saber: ainda que exista muito amor envolvido, os problemas familiares surgirão. Com maior ou menor intensidade, eles surgirão. Isso faz parte da natureza humana decaída. O amor, porém, sempre será a resposta para todos os problemas familiares, o qual não é um sentimento, e sim uma decisão voluntária.
Alguns espiritualistas, porém, dizem que os conflitos familiares são inevitáveis porque derivam de questões mal resolvidas em existências passadas e, por isso, quando as pessoas reencarnam, esses conflitos surgem em decorrência do “carma”. O Diabo, com essa tese, procura demonstrar ser normal, e até necessário (do ponto de vista da "lei da causalidade moral", mais conhecida como “lei do carma”, aceita pela maioria das religiões ocidentais que acreditam na reencarnação), a família ser um campo de batalha entre seus membros. Todavia, isso não é verdade! Deus quer que a família seja um campo de treinamento, um lugar onde serão aparelhados seus membros para as experiências mais profundas que serão vividas, como explica Charles Colson na obra “E agora, como viveremos?”. Entretanto, isso não tem nada a ver com a ideia satânica da “lei do carma”, ou que a família deve ser um “campo de batalha" para as pessoas “pagarem” por seus pecados praticados em vidas pregressas. Nas famílias, sempre haverá frustrações. Ao longo da existência, decepções recíprocas são, praticamente, inevitáveis, quer seja entre os cônjuges, entre pais e filhos e/ou entre irmãos. Entrementes, é possível vencer essas dificuldades com o amor de Deus, que foi derramado nos corações pelo Espírito Santo que foi dado (Rm 5.1). Ninguém deve desistir de sua família, pois ela é indispensável na vida de todos, tanto no presente quanto no futuro (SI 127.5).

III. Vencendo o Inimigo

1. O pecado envergonhado
O que levou Caim a matar Abel foi um sentimento horrível chamado inveja, como dito anteriormente. E só uma coisa não havia sido dita sobre o pecado da inveja: é o único inconfessável, isto é, quem o comete, não tem satisfação em divulgá-lo, pois demonstra que o indivíduo tem um péssimo caráter. De todos os pecados humanos, apenas a inveja é detentora, em si mesmo, do status de envergonhado, como dizia o médico espanhol Ramón Cajal, ganhador do Prêmio Nobel de medicina em 1906: “A inveja é tão vergonhosa que ninguém se atreve a confessá-la".
Diz a Bíblia que ela é a podridão dos ossos (Pv 14.30). Quando a inveja aparece em uma família, torna a convivência muito difícil (Pv 27.4). Quando a inveja acometeu a Caim, ele “descaiu o semblante” (Gn 4.5), e, por fim, cometeu o fratricídio. Caim sabia que não conseguiria a aprovação de Deus com o seu ato. Isso não era importante para ele. Caim só não queria que Abel fosse feliz!

2. Triunfo familiar
Deus sabia dos abundantes problemas familiares. Por essa razão, o Senhor estabeleceu uma ordem muito clara aos judeus: que ensinassem a palavra de Deus continuamente a seus filhos (Dt 11.19-21). O Manual do Fabricante, a Bíblia Sagrada, deixou prescrito o antídoto para que os problemas familiares não se tornem numa doença fatal na família, como aconteceu no caso de Caim e Abel: o ensino da palavra a tempo e fora de tempo (2 Tm 4.1,2).
Ao vir a este mundo, o Senhor Jesus foi muito claro na ordem para que todos se amassem mutuamente, como Ele nos amou. Este é um remédio que cura todos os males de todas as famílias.

Através do amor recíproco, da obediência e do ensino da Bíblia Sagrada, a família será feliz e próspera. Não haverá dificuldade que ela não possa superar.


Autor: Reynaldo Odilo http://www.ensinadorcristao.com.br/